quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Europa e Coreia fecham acordo de livre comércio

Sex, 16 Out - 01h12

Com a Organização Mundial do Comércio (OMC) em estado dormente há meses e a dificuldade do Mercosul em negociar acordos comerciais, a Europa se vira para a Ásia e fecha o segundo maior tratado de livre comércio da história. Ontem, a Comissão Europeia e a Coreia do Sul assinaram um entendimento para anular todas as tarifas de importação em cinco anos e Bruxelas já fala em concluir novos acordos na região.

A negociação ainda precisa ser aprovada pelos 27 países-membros da UE e pelo congresso coreano. Mas Bruxelas calcula que os ganhos passam de 36 bilhões para as duas partes.

O tratado é o maior em termos comerciais em 15 anos, quando o Nafta foi criado. Em cinco anos, 99% do comércio de 76 bilhões anuais entre os europeus e coreanos serão liberalizados. O acordo só não é maior que o Nafta, envolvendo um comércio de US$ 1 trilhão.

A conclusão do tratado foi cercada de simbolismos. O primeiro é o recado à OMC de que, se a Rodada Doha não der resultados, governos partirão em busca de acordos individuais para superar as tentações protecionistas. Pascal Lamy, diretor da OMC, já disse em várias ocasiões que acordos bilaterais não serão o melhor caminho para os mercados emergentes.

Outro recado é para a administração do presidente americano Barack Obama. A Casa Branca até agora não tem uma política comercial clara e sequer disse aos demais parceiros o que está disposta a fazer para flexibilizar sua posição. O chanceler Celso Amorim é um dos que têm criticado a atitude americana no comércio.

Com os coreanos, Washington já fechou um acordo em 2007. Mas até hoje o Congresso não o ratificou. "Esse é um sinal de que, pelo menos na Europa, ainda há uma vontade de fechar acordos liberalizantes", afirmou John Veroneau, ex-vice representante de Comércio da Casa Branca e hoje consultor. Ele espera que o acordo faça com que Obama saia de sua posição de resistência.

Mas o acordo - que levou apenas dois anos para ser negociado - também é um recado ao Mercosul. A Europa vem negociando com o bloco sul-americano desde o fim dos anos 90. Mas sem sucesso. O argumento dos europeus era de que o bloco não estava oferecendo vantagens suficientes no setor industrial. Já o Mercosul acusa os europeus de não abrir de forma suficiente o setor agrícola. Desde 2004 o projeto está em estado de paralisia.

A atual presidência da UE, na Suécia, sequer colocou o acordo com o Mercosul como uma de suas prioridades. Mas a esperança é de que, a partir de janeiro, a presidência espanhola volte a dar atenção para a América Latina.

A diplomacia brasileira alega que o acordo com a Coreia era mais fácil porque não envolvia a importação por parte dos europeus de produtos agrícolas. Para o Itamaraty, o fato de o Mercosul ter um setor agrícola competitivo é o que diferencia os prazos das negociações com os europeus.

Mas com o mercado asiático em expansão, a UE já fala em tentar fechar um acordo com a Índia e outro com os dez países que fazem parte da Associação de Nações dos Sudeste Asiático. Outra possibilidade é ainda uma aproximação com o Japão.

Para o governo da Coreia, o tratado dará acesso facilitado a suas exportações de carros, eletrônicos e têxteis. A Coreia é hoje o quarto maior parceiro comercial da Europa, superado apenas por Estados Unidos, Japão e China.

Em eliminação de tarifas o acordo significará a redução imediata de 1,6 bilhão em gastos para os coreanos e outros 1,1 bilhão para os europeus. Segundo o Instituto de Política Econômica Internacional da Coreia, o impacto do acordo será um crescimento de 3,1% no Produto Interno Bruto (PIB) do país no longo prazo, além da alta da taxa de empregados em 3,6%.

Para Catherine Ashton, comissária de Comércio da UE, o acordo vem em um momento importante. "É um sinal vital em um momento de crise econômica", disse. A UE estima que a ratificação leve mais sete meses para ocorrer e para que o acordo entre em vigor.

Da parte dos coreanos, Seul reconhecerá as regras que protegem produtos tradicionais europeus, como a Champagne francesa ou o presunto de Parma da Itália. Padrões europeus também serão validados. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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