David Batista conversa com China sobre a criação do Partido Pirata no
Brasil.
David Batista: O que levou você a participar do Partido Pirata, e ser um dos
fundadores aqui no Brasil?
China: Basicamente, eu tinha ouvido falar no partido pirata através de um
jornal em esperanto chamado "Libera Folio" que destacava a atuação de um
esperantista alemão chamado Martin Heese na militância. A princípio vi como
sensacionalismo, mas decidi me aprofundar no assunto e achei interessante as
ideias do partido. O partido pirata teve atuação marcante nos manifestos contra
o SOPA e o PIPA nos Estados Unidos e contra o ACTA na Europa. Aqui no Brasil, os
piratas lutaram contra a Lei Azeredo e estão em forte militância a favor do
Marco Civil da Internet. Quando Rick Falkvinge, que iniciou o movimento em 2006
na Suécia, veio à Campus Party ele destacou a importância do Marco Civil e
nossa luta a favor dele.
David Batista: Qual é a expectativa do Partido Pirata para essas eleições
Municipais, vocês já tem algum lado para ficar?
China: Para essas eleições não será possível. Apenas em 2014, porque a lei
eleitoral exige que tenhamos 500 mil assinaturas para oficializar o partido. O
ato de fundação criou o partido que conta no momento com 120 membros, mas
infelizmente somente depois de termos as assinaturas é que teremos autorização
para filiar mais pessoas. No próximo dia 12 de agosto teremos uma reunião para
escolher a coordenação em Pernambuco. Nossa sede provisória fica em Jd.São
Paulo e muitas das estratégias do partido serão colocadas em pauta, inclusive a
criação de diretórios municipais.
Com relação a alianças políticas, o partido se mostra contrário. Eu
conversei com Rick Falkginve e perguntei a ele se o partido na Suécia chegou a
fazer alianças políticas, interessante: a Microsoft se aliou ao
partido na Suécia porque havia a intenção de privatizar as chamadas de voz por
IP e isso iria prejudicar os negócios da Microsoft que tinha acabado de
adquirir o skype. Então foi interessante que os piratas agissem contra a
privatização, e deu apoio ao partido nesse sentido. Se um partido ou sindicato
ou até mesmo empresa não apoiar em 100% os interesses do partido, nós não
teremos por objetivo fazer concessões. Afinal, não há presidentes no
partido, apenas coordenadores sem poder de veto. Tudo tem que ser decidido pela
coletividade.
David Batista: Depois de criado, qual a sua expectativa para o Partido Pirata,
aqui em Paulista, uma Cidade que tem milhares de usuários nas redes sociais, de
que forma vocês esperam contribuir para o desenvolvimento da Cidade de Paulista
como um todo?
China: Bem, a criação de um diretório municipal em Paulista na verdade é
bastante simples. Um coletivo de pessoas do município pode tomar a decisão de
forma autônoma e depois relatar a decisão ao diretório estadual. Teremos a
intenção de concorrer em 2016 em Paulista com certeza. Quando atingirmos o
número de 10 militantes, mesmo que não sejam filiados, iremos fundar o partido
em Paulista. No momento contamos com 3 membros fundadores que são de Paulista e
irão levar o projeto adiante, mas os novos militantes que entrarem terão o
mesmo poder de voto de nós 3 que somos membros fundadores e não teremos poder
de veto nas decisões coletivas dos nossos militantes.
Com relação às ações, nossa primeira luta será para mudar o portal de
transparência do município. Ele não informa os gastos da prefeitura, só informa
valores, mas sem discriminar cada item. Também iremos lutar para que as
licitações e reuniões da câmara do município possam ser transmitidas via web.
David Batista: através da experiência com a Campus Party, você acredita que
Paulista, possa se torna um polo Tecnologico, pois tem o Perfil de grandes
Cidades do mundo, que estavam com a Economia Estagnada, pois era uma Cidade
basicamente industrial, você acredita, que através de um planejamento
poderiamos ter a oportunidade de se tornar um grande polo na área da Economia
Criativa?
China: Essa é uma ótima pergunta. Recentemente,
a prefeitura do Recife assinou um decreto que expande o Porto Digital para a
região de Santo Amaro e não apenas para a região do Recife Antigo. Isso mostra
que há interesse do setor público lá em dar estímulo ao desenvolvimento
tecnológico no Recife. É vergonhoso que o comércio em Paulista tenha recebido
estímulos (pode-se notar isso com o grande número de lojas que chegaram nos
últimos anos), mas não apenas a indústria, mas também a tecnologia anda
inteiramente defasada. Não há um único esforço na tentativa de diversificar a
economia do Paulista. Por exemplo, se empreendedores do setor
de tecnologia quisessem abrir startups pra dar suporte tecnológico ao setor
industrial ou até mesmo comercial em Paulista, não receberiam nenhum apoio do
município
David Batista: Para encerrar a nossa Entrevista, primeiro agradeço a você, e a
todos que fazem o Partido Pirata no Brasil, e aqui em Pernambuco, para lhe
deixar livre para falar o que você achou da nossa entrevista, e se gostou dos
moldes com que ela se decorreu, através de um chat virtual?
China: Eu acho que esse tipo de diálogo aberto
com o blog O Povo Em Foco é importante para mostrar um pouco das dificuldades
que temos, e a batalha que teremos que travar. Trazer o debate a um local
específico, como é o caso de Paulista, é importante para que as pessoas
entendam que o partido não é só uma moda ou um fenômeno que é abraçado por
geeks. Os piratas querem agora abordar outros pontos que os políticos locais
não tem abordado, portanto preencher esse vazio político.
Muito obrigado pelo espaço e sucesso ao
blog.
China e o sueco Rick Falkvinge, do partido pirata da Suécia, na Campus Party Recife.
Por: O Povo em Foco
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