segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mino Carta

O presidente Lula costuma afirmar nunca ter sido de esquerda. Não chega a me convencer, deixo claro, mesmo porque o meu entendimento parte de Norberto Bobbio: é de esquerda quem se empenha a favor da igualdade. Creio, porém, que Lula imagine uma postura fortemente ideológica. De fato ele nunca a teve, embora seu partido tenha nascido com ideário de nítida marca esquerdista, hoje igual ao espaço vazio deixado pela foto retirada do álbum.

Há, porém, petistas que ainda se declaram solenemente de esquerda. Talvez tenha sido a estes que o presidente pretendeu oferecer alguma satisfação com suas palavras a respeito dos presos cubanos. Palavras, convenhamos, que não pediam para ser pronunciadas. Independentemente da existência, ou não, de uma robusta facção radical dentro do atual PT, a ser agradada sempre que surgir a oportunidade favorável.

Pergunto aos meus curiosos botões se não teria sido este o intuito do então ministro da Justiça Tarso Genro quando decidiu, contra a vontade do Conare e dos seus colaboradores mais próximos, conceder refúgio ao ex-terrorista italiano Cesare Battisti, em nome da convicção de ser ele um esquerdista de origem controlada e garantida. Com a tragicômica adesão de um sem-número de cidadãos, graúdos e nem tanto, dispostos a acreditar que a questão implica a própria soberania nacional.

Os leitores de CartaCapital já foram informados a respeito da verdadeira origem de Battisti e da intransponível distância entre quem pegou em armas para lutar contra a ditadura e quem as empunhou com o propósito insano de derrubar um Estado Democrático de Direito, e não hesitou em sacrificar inocentes. Depois da decisão do STF a favor da extradição, o caso estaciona nos corredores do Planalto, à espera do pronunciamento do presidente da República.

Poderia ser ulteriormente adiado. Segundo ótimas fontes, virá ao Brasil em abril o premier Silvio Berlusconi e não é provável que Lula o receba com a notícia do refúgio de Battisti. E se o presidente achar da sua conveniência deixar o caso em herança ao seu sucessor? Quem sabe... É inegável, de todo modo, que o enredo ganhe aspectos de puro suspense. Valeria um texto da escritora Fred Vargas, ou do próprio Battisti, especialistas em literatura policial.

De boa qualidade, o da francesa, segundo o notabilíssimo representante da esquerda petista que esta semana convidei para um debate, ou melhor, para uma conversa aberta sobre o caso, a ser publicada por CartaCapital. A personagem é muito importante, desempenhou tarefas de vulto e já se manifestou diversas vezes e sem meias-palavras a favor do refúgio. Registraríamos o diálogo e, antes da publicação, ele teria acesso ao texto final, com chance total de eventuais retoques. Declinou da proposta.
Por quê? Por não conhecer o assunto em profundidade. Caí da ionosfera. Então a que se devem as suas reiteradas declarações de apoio às decisões de Tarso Genro, bem como o interesse pela literatura da senhora Vargas? Bem impressionado pela escritora, não teve palavras de igual apreço pela decisão de Genro, que classificou como mais “uma” do ex-ministro, hoje candidato ao governo do Rio Grande do Sul.

Declarações similares colhi da boca de alguns ministros e parlamentares nos últimos meses, e também de um grande político petista do Sul do País, e de projeção federal, com quem estive há duas semanas e que não via há muito tempo. Figura pela qual tenho admiração há mais de 30 anos. De outra personagem central recebi- interessantes informações em relação aos saraus parisienses de alguns cidadãos nativos que privam com Fred Vargas e mais intelectuais franceses.

Por exemplo, o ministro Eros Grau, que em Paris dispõe de apartamento, na Provance de uma casa e, se não me engano, na Rive Droite de mesa cativa em restaurante pluriestrelado. Como se sabe, Grau, na reunião decisiva do STF, votou contra a extradição de Battisti. Há quem me diga: muitos entre os defensores do ex-terrorista italiano são obscurecidos em seus pensamentos por terem participado da resistência à ditadura no Brasil, quando não pegaram em armas. Transtornados pela memória dos dias impérvios, confundem as coisas.

Pois é. Ao cabo deste périplo investigativo junto a autoridades variadas, volto a encarar os botões e pergunto: que esquerda é essa, à espera de satisfações? Que fantasiosas informações a abastecem? Por que Battisti continua por aqui?
caso Battisti....

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