segunda-feira, 5 de abril de 2010

O instante das definições

O tom da campanha eleitoral de 2010 foi dado na quarta-feira 31 pelos dois principais candidatos à Presidência, José Serra e Dilma Rousseff, nos discursos de despedida dos cargos que ocupavam. Não foi nenhuma surpresa. Enquanto os tucanos vão salientar a “competência” de Serra, que afirmou não ser governante “que cultiva escândalos e roubalheira”, os petistas vão partir para a comparação com o governo do antecessor Fernando Henrique Cardoso, de quem, como insinuou Dilma, “alguns não têm orgulho” de ter participado.

Esnobado pelo governador mineiro, Aécio Neves, a quem tinha convidado para ser seu vice, Serra fez um afago em Minas, citando o escritor Guimarães Rosa, e aproveitou para provocar os professores em greve há quase 30 dias: “Mestre não é quem ensina, é quem de repente aprende” (a respeito, nota à pág. 14). Mas continuou fazendo mistério sobre a sua candidatura, ao não dizer qual a exata razão da despedida. A durona Dilma tampouco foi explícita, mas chorou e disse sentir uma “tristeza alegre” ao deixar a Casa Civil do governo Lula. “Não somos aqueles que estão dizendo ‘adeus’, somos aqueles que estão dizendo ‘até breve’”, afirmou, confiante.

Já a situação de outro presidenciável, Ciro Gomes, fica cada vez mais indefinida. O deputado cearense recusou a proposta de sair candidato ao governo de São Paulo, embora tenha transferido o domicílio para o estado. Ciro insiste em disputar a Presidência, mas seu partido, o PSB, dá sinais de que não terá candidato próprio, fechando aliança com Dilma.

Em reunião do partido na segunda-feira 29, na sede da Fundação João Mangabeira, em Brasília, o deputado apresentou aos lí-deres do PSB as razões pelas quais mantém a candidatura ao Planalto. Argumentou que entrar na disputa daria protagonismo ao partido, contribuiria para o debate político e contra o bipartidarismo, desequilibrando a polarização entre o PSDB e o PT. Ouviu de volta a preocupação dos companheiros de sigla de se lançarem numa candidatura isolada, sem perspectiva de alianças. Não houve consenso e os líderes decidiram esperar até abril. A única certeza de Ciro: ou sai candidato a presidente ou não disputa as eleições deste ano.

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